Grandeza e miséria, divertimento, busca de Deus Pascal: o Homem e Deus

Blaise Pascal
Blaise Pascal

Pascal nasceu em Junho de 1623, portanto, há 400 anos. Neste quarto centenário, fica aí uma modesta homenagem ao matemático, um dos maiores de sempre, mas também a um dos maiores cristãos europeus de sempre

“Há apenas três espécies de pessoas: umas que servem Deus tendo-o encontrado, outras que se dedicam a buscá-lo, não o tendo encontrado, outras que vivem sem o buscar nem o encontrar. As primeiras são sensatas e felizes, as últimas são loucas e infelizes, as do meio são infelizes e sensatas"

 “Descobri que toda a infelicidade dos homens vem de uma só coisa: não saberem estar sossegados num quarto”

Quando me perguntam sobre os livros da minha vida, respondo: a Bíblia, a obra de Immanuel Kant, a obra de Hans Küng e Pensamentos de Pascal.

 Pascal nasceu em Junho de 1623, portanto, há 400 anos. Neste quarto centenário, fica aí uma modesta homenagem ao matemático, um dos maiores de sempre, mas também a um dos maiores cristãos europeus de sempre, lembrando alguns pensamentos de Pensamentos e outros textos e a sua busca de Deus. Ousei, servindo-me, com arranjos, da tradução de Denis da Luz e Miguel Serras Pereira, uma brevíssima antologia em três momentos. 

    1. Grandeza e miséria, divertimento, busca de Deus 

  “O pensamento faz a grandeza do homem” .“É tão visível a grandeza do homem que até provém da sua miséria. Até as misérias provam a sua grandeza. São misérias de grande senhor, misérias de rei sem trono.” “A grandeza do homem é grande em conhecer-se ele como miserável.” ”O homem conhece que é miserável. É portanto miserável uma vez que o é, mas é deveras grande uma vez que o conhece” 

Blaise Pascal
Blaise Pascal

 “O que é um homem no infinito?” “O silêncio eterno destes espaços infinitos apavora-me.” “O homem não é mais do que uma cana, a mais fraca da natureza, mas é uma cana pensante. Não é necessário que o universo inteiro se arme para o esmagar: um vapor, uma gota de água bastam para o matar. Mas ainda que o universo o esmagasse, o homem continuaria a ser mais nobre do que aquilo que o mata, pois sabe que morre e a vantagem que o universo tem sobre ele; o universo nada sabe. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. Esforcemo-nos, pois, por pensar bem: eis o princípio da moral.” 

     “O homem é visivelmente feito para pensar. Nisto consiste toda a sua dignidade e o seu mérito. E o seu dever é pensar como se deve. Ora bem: a ordem do pensamento está em começar cada qual a pensar em si próprio, no seu autor e no seu fim. E em que se pensa afinal? Em tudo menos nisso.” 

  “Descobri que toda a infelicidade dos homens vem de uma só coisa: não saberem estar sossegados num quarto” O que procuram é “a agitação que nos desvia de pensar na nossa condição e nos diverte.” “Por isso amam tanto os homens o ruído e o bulício; por isso o amor da solidão é coisa tão incompreensível. E, em suma, pode dizer-se que o maior motivo de felicidade da condição dos reis consiste em terem quem continuamente procure diverti-los e proporcionar-lhes prazeres.” “É uma coisa deplorável vermos todos os homens deliberarem apenas sobre os meios e não sobre os fins.”  “A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento. E no entanto é essa a maior das nossas misérias. Porque isso é o que nos impede principalmente de pensarmos em nós e que nos faz perdermo-nos insensivelmente.”

“O último acto é sangrento por mais bela que em tudo o resto seja a comédia. Deita-se por fim terra sobre a cabeça e está acabado para sempre.” “O comum dos homens põe o bem na fortuna e nos bens do exterior, ou pelo menos no divertimento.” Ah! E a vaidade: “A vaidade está tão ancorada no coração do homem que um soldado, um servente de pedreiro, um cozinheiro, um carregador se gabam do que são e querem ter os seus admiradores. E os próprios filósofos o querem, e os que escrevem contra isso querem ter a glória de terem escrito bem, e aqueles que os lêem querem ter a glória de os terem lido, e eu que escrevo talvez tenha esse desejo, e talvez os que o lerem...” 

    “Não tendo podido curar a morte, a miséria, a ignorância, os homens tomaram, para serem felizes, o partido de não pensar nelas. Apesar destas misérias, o homem quer ser feliz e não quer senão ser feliz, e não pode não querer sê-lo. Mas como fará para obter isso? Para o conseguir teria de se tornar imortal, mas não o podendo ser, tomou o partido de deixar de pensar nisso.”  

Abrir caminos de confianza
Abrir caminos de confianza

   Que caminho seguir?“Vendo a cegueira e a miséria do homem, olhando todo o universo mudo e o homem sem luz abandonado a si mesmo, e como que perdido neste recanto do universo sem saber quem aqui o pôs, o que veio cá fazer, aquilo em que se tornará ao morrer, incapaz de qualquer conhecimento, entro em pânico como um homem que tivessem transportado adormecido para uma ilha deserta e assustadora e que despertasse sem conhecer onde está e sem meio de sair dela. E depois disso admiro-me como não entramos em desespero por tão miserável estado. Vejo outras pessoas junto a mim de uma natureza semelhante. Pergunto-lhes se estão mais bem instruídas do que eu. Dizem-me que não, e, dito isto, esses miseráveis extraviados tendo olhado em seu redor e visto alguns objectos aprazíveis, a eles se entregaram e apegaram. Quanto a mim, não pude apegar-me a nada e, considerando quanta manifestação há de outra coisa mais do que aquilo que vejo, procurei descobrir se Deus não teria deixado algum sinal de si.” “Se o homem não é feito para Deus, porque não é feliz senão em Deus? Se o homem é feito para Deus, porque é tão contrário a Deus?” 

      “Há apenas três espécies de pessoas: umas que servem Deus tendo-o encontrado, outras que se dedicam a buscá-lo, não o tendo encontrado, outras que vivem sem o buscar nem o encontrar. As primeiras são sensatas e felizes, as últimas são loucas e infelizes, as do meio são infelizes e sensatas.” “A verdadeira natureza  do homem, o seu verdadeiro bem, a verdadeira virtude e a verdadeira religião são coisas cujo conhecimento é inseparável” 

Blaise Pascal
Blaise Pascal

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