Natal: o nascimento de Jesus e a infinita dignidade do Homem

É uma vergonha para a Humanidade que hoje centenas de milhões de pessoas passem fome e morram de fome…

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Navidad | Berzosa

A festa do Natal deveria ser infinitamente mais do que o festival do comércio natalício exasperado. Há pessoas que chegam à noite de Natal cansadas e desfeitas, por causa dos presentes. No último instante, ainda tiveram de ir à última loja aberta, por causa de mais uma compra. Há inclusivamente pessoas para as quais o tormento das compras natalícias começa logo no início do novo ano, pouco tempo depois do Natal: o que é que vão dar como presente àquele, àquela, no próximo Natal?!...

Realmente, a festa do Natal é infinitamente mais, e deve sê-lo. Porque o Natal é a visita de Deus aos seres humanos, homens, mulheres, jovens, crianças, bebés. É Deus presente entre os homens. E, ao contrário do que frequentemente fazemos com os nossos presentes, que pretendem ser uma manifestação de ostentação de poder junto dos outros, Deus veio, sem majestade, sem poder. Veio, humilde, na simplicidade. De tal maneira que os mais pobres entre os pobres — os pastores — se não sentiram humilhados ao visitá-lo. Foram os pastores os primeiros que viram Deus visível num rosto de criança. Quem é que imaginaria que Deus, se algum dia viesse, viria assim: simples, pobre, precisamente para que ninguém se sentisse excluído?...

Quer se seja cristão ou não, quer se acredite quer não, é necessário reconhecer que foi através do cristianismo, isto é, mediante a fé no Deus revelado em Jesus, que veio ao mundo a tomada de consciência explícita e clara da dignidade infinita de ser ser humano. Isso foi reconhecido por pensadores da estatura de Hegel, Ernst Bloch, Jürgen Habermas... Hegel afirmou expressamente que na religião cristã está o princípio de que "o homem tem valor absolutamente infinito". Ernst Bloch, embora ateu, confessou que foi pelo cristianismo que veio ao mundo a consciência do valor infinito de ser homem, de tal modo que nenhum ser humano pode ser tratado como "gado". E Jürgen Habermas, mais recentemente, escreveu que a democracia se não entende sem a compreensão judaico-cristã da igualdade radical de todos os homens, por causa da "igualdade de cada indivíduo perante Deus". A própria ideia de pessoa enquanto dignidade inviolável e sujeito de direitos inalienáveis veio ao mundo através dos debates à volta da tentativa de compreender a pessoa de Cristo e o mistério do Deus trinitário cristão.

Sim, é uma alegria enorme dar um presente e receber um presente, concretamente na época de Natal. Mas essa alegria não provém tanto do valor material do presente como desse saber que consiste em sermos e estarmos nós próprios presentes uns aos outros: ele lembrou-se de mim, eu lembrei-me dele; eu lembrei-me dela, ela lembrou-se de mim...

O pequeno presente oferecido é sinal, símbolo, dessa presença calorosa, e exprime a alegria de ser Homem, cuja dignidade infinita reconhecemos em cada ser humano. Assim, celebrar o Natal tem de ser também contribuir para que se concretize o anúncio dos anjos aos pastores, os mais pobres de entre os pobres de então: "Nasceu para vós um salvador; Paz na terra aos homens amados por Deus". É uma vergonha para a Humanidade que hoje centenas de milhões de pessoas passem fome e morram de fome… O que se gasta em armamento, para matar milhões, não deveria ser, se realmente se entendesse o Natal verdadeiro, para dar educação, comida, água potável, serviços sanitários mínimos..., a milhares de milhões de pessoas?... 

Bom Natal! Natal feliz!

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