Que advento esperar do terror?

Maria Clara Lucchetti Bingemer
10 may 2024 - 20:21

Há mais de um mês o mundo inteiro, mas especialmente os territórios israelense e

palestino vivem um drama de proporções inesperadas. No dia 7 de outubro o grupo

terrorista Hamas invadiu residências (kibutz) de famílias e um baile rave onde jovens

cantavam e dançavam. Semearam morte e terror, levando mais de duas centenas de

reféns, entre eles mulheres, crianças (algumas delas bebês), idosos de ambos os

sexos.

O terror não ficou sem resposta. Israel respondeu e se defendeu. O resultado é que há

mais de um mês assistimos a ataques e bombardeios constantes, provenientes de

ambos os lados da contenda, destruindo bairros e territórios situados na faixa de

Gaza, bombardeando casas e hospitais, aterrorizando a vida de famílias inteiras e

numerosos civis.

Há alguns dias a libertação de alguns reféns de ambos os lados trouxe esperança de

um cessar do conflito. Mas isso não parece tão perto de acontecer. Ainda há medo,

susto, e respira-se um ar de violência e morte ali no Oriente Médio, na mesma latitude

para a qual se voltam nesta época do ano os olhares dos cristãos. Aquela parte do

mundo tem sido a terra prometida, a terra santa das três religiões do tronco

abraâmico: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Agora o mau odor da inimizade

parece imperar pelo menos entre dois desses povos. E tende a tornar opaco o mistério

celebrado pelo Cristianismo do nascimento de Jesus em Belém de Judá. Sobre isso

nos falam os escritos de alguns profetas, entre eles Miquéias.

Miqueias é um profeta do qual não nos chegaram tantos escritos. Sabe-se que é

nascido em Moresete, uma pequena cidade da região de Judá, no século VIII AC.

Viveu em um período de grande instabilidade política e social, marcado por conflitos

internos entre as tribos de Israel e com as nações vizinhos, como a Assíria. Suas

palavras estão dirigidas principalmente para a condenação da injustiça social e a

corrupção entre os líderes religiosos e políticos de Israel.

Mas Miqueias não só denunciou. Também anunciou. Anunciou a chegada do Messias

que viria da pequena cidade de Belém e seria alguém justo e poderoso. Em seu livro

lemos:

1Agora, pois, reúne as tuas tropas, ó cidade das tropas; e fortifica teus muros, ó

cidade murada; porquanto já há um cerco contra nós...2“No entanto tu, Bete-Lechem,

Belém, Casa do Pão; Ephrathah, Efratá, Frutífera, embora pequena demais para

figurar entre os milhares de Judá, sairá de ti para mim aquele que será o governante

sobre todo Israel, cujas origens são desde os dias da eternidade!” 3Por este motivo os

israelitas ficarão abandonados sob o domínio do inimigo até ao tempo em que aquela

que está em dores de parto tiver dado à luz; quando então o restante dos irmãos do

governante voltará para unir-se aos israelitas.…

Na Bíblia Cristã, o evangelho de Mateus, dirigido sobretudo a cristãos oriundos do

judaísmo, retomará as palavras do profeta para falar de Jesus, em quem a

comunidade reconhecia o Messias esperado. : “Após o nascimento de Jesus em

Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, eis que alguns sábios vindos do Oriente

chegaram a Jerusalém.” (Mt 2,1) O evangelista deseja aqui recalcar em seus leitores o

cumprimento da profecia outrora feita pelo profeta Miqueias sobre a cidade de Belém e

sobretudo sobre o Messias.

Vinte e um séculos depois da escritura de Mateus e muitos mais da profecia de

Miqueias, os cristãos começamos a celebrar o tempo do Advento, que antecede a

festa do Natal, de luz e de esperança. E nesse tempo nossos olhos se voltam para

Belém Efrata, cidade pequena, mas frutífera. E sobretudo cidade tão próxima aos

últimos acontecimentos terríveis e dolorosos que ainda estamos presenciando. E esse

olhar se dirige ao tempo em que “aquela que está em dores de parto tiver dado à

luz...” Por enquanto, este parto ainda mostra não muito mais que suas dores e

contrações e não se vislumbra o tempo de paz tão desejado. E, no entanto, o ventre

da mulher grávida é sempre uma esperança de que algo vivo e novo pode sair até

mesmo do terror, da violência e do medo.

Que assim seja e que aqueles que estão cativos sejam libertados, que não haja mais

mortes, mas que a pequena Belém de Judá possa mostrar alguma luz não apenas aos

cristãos, mas ao mundo e à humanidade inteira.

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