Amoris Laetitia ou o primado do amor...

A Exortação apostólica «Amoris Laetitia» foi acolhida pelo povo de Deus com grande alegria, e por alguns membros da alta hierarquia com desconfiança e preocupação pelo que insinuava e claramente não dizia.

O problema, segundo os ultra conservadores, está nos números de 300 a 305, quando fala dos divorciados e recasados. O Papa teve o acerto de os inserir no contexto, muito maior, da vida conjugal e familiar. Mas, o que deveria ser apenas alguns parágrafos marginais, focalizaram a exortação toda, e viraram uma obsessão patológica para os amantes da disciplina tradicional da Igreja. Esquecem de que a Eucaristia não é um prêmio para os bons, mas a força para os débeis e os pecadores. O grande escândalo é: "mas eles podem comungar?" O capítulo 8º foi estrinchado por todos os lados, até nas suas notas a pé de página. E disseram é ambíguo, confuso e contrário à tradição multi-secular da Igreja.

Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”, título do capítulo, virou um campo de batalha entre tradicionalistas e progressistas, moralistas e liberais. Os primeiros dizem que não estão bem delimitadas as fronteiras entre o bem e o mal, o que cria desordem mental e moral.

Quem estava acostumado a ver as coisas em "preto e branco", a entrada de outras cores cria ofuscação e confusão. Daí as cinco perguntas intempestivas dos 4 cardeais (Carlo Caffarra, emérito de Bologna/Itália, Raymond Burke, emérito de St Louis/USA, Walter Brandmüller, alemão, emérito do Pontifical Committee for Historical Sciences, e Joachim Meisner, emérito de Colônia/ Alemanha). ao Papa, para que responda SIM ou NÃO às perguntas formuladas[1]. Como os fariseu fizeram com Jesus para poderem acusar e condenar.

Em tempos passados, não estávamos acostumados à pluralidade de opiniões e ideias, tanto que mais de 500 teólogos, doutores, foram retirados a pressão de suas cátedras de ensino. Fomos formatados a um mundo monocolor, e agora alguns se escandalizam pelo campo de visão aumentado. Bendita liberdade!

A realidade matrimonial, neste nosso mundo pós moderno e pluricultural, assume tal diversidade que não temos o direito de excluir quem não consegue viver como manda o figurino do ideal. Se a Igreja sacramentalizou e priorizou uma forma de ser e viver não que dizer que satanizou as outras.

As pessoas que se encontravam com Jesus e o convidavam às suas mesas não eram todas “gente de bem”. O próprio Jesus foi acusado de andar em más companhias (Mateus, Samaritana, Dimas, Judas, Simão o leproso...).

Diante de pessoas feridas pela vida a Igreja, como boa mãe, usa o balsamo do acolhimento e da misericórdia mais do que o da lei e a exclusão. Amores destruídos, promessas desfeitas, cristãos sofridos... precisam de maior carinho dos pastores da Igreja. O Papa convidando ao discernimento e à integração revela mais fé e amor do que os seus acusadores. Ele toma a Palavra de Deus como salvadora e à Igreja como um hospital de Campanha, e não um posto de alfândega que tudo controla e vigia.

A clareza que alguns desejam e exigem não é apenas dizer se está certo ou errado, se pode ou não, mas é algo muito maior, o de perceber o Senhor Ressuscitado presente no meio das nossas próprias limitações, dando mais vida ao que já estava desiludido e perdido.

O papel da Igreja é, pois, indicar os caminhos de vida, e não desanimar os discípulos que caminham na fé como podem. Nenhuma situação vital nos exclui da misericórdia de Deus! Isso é uma Boa Nova! Pelo contrário, o orgulho sectário nos afasta estupidamente dos irmãos. A limitação reconhecida reintegra na comunhão com Deus e com os outros.

Dias atrás estava numa cidade de porte médio do Paraná. Éramos 6 pessoas na celebração presidida dignamente por um ministro leigo. Comungamos 5. O sexto tinha ficado no seu lugar, piedosamente de joelhos... No final me aproximei e perguntei quem era e por que não comungara. Disse que estava numa segunda união havia 20 anos, e que diariamente vinha a missa, mas não comungava por que 19 anos atrás um padre lhe tinha dito... Disse-lhe para seguir sua consciência e o seu coração! Aquele homem tinha fé e precisava comungar.

O trabalho personalizado do discernimento individualiza o relacionamento do fiel com os pastores, e alegra o povo de Deus. Não é fácil ser adulto na fé, e se responsabilizar por ela.

Acolher as pessoas feridas e machucadas, em nome do Senhor Jesus, é uma obra de misericórdia.

Só o amor eterniza!

E você o que pensa sobre esse assunto?
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